As três fiandeiras
João e Maria
Cinderela
O ganso de ouro
Rapunzel
O Pequeno Polegar
Branca de Neve
O Príncipe Sapo
Chapeuzinho Vermelho
O Pequeno Polegar
Era uma vez um camponês que costumava ficar sentado ao lado do fogão todas as noites para atiçar o fogo enquanto sua mulher fiava. Ele dizia:

– Que tristeza não termos filhos! Nossa casa é tão silenciosa perto da casa dos outros, sempre barulhentas e alegres.

– É verdade – a esposa respondeu com um suspiro. – Se tivéssemos um, pequeno que fosse, do tamanho do meu polegar, como eu seria feliz!

Pouco tempo depois, a mulher teve um filho perfeito, ao qual não faltava nenhum membro. Porém ele não era maior do que um polegar. Os pais disseram:

– Ele é exatamente o que desejamos e vamos amá-lo de todo o coração.

O menino foi nomeado segundo a sua estatura: Pequeno Polegar. Embora tenha recebido alimento suficiente, permaneceu do mesmo tamanho. Era inteligente, rápido e prudente, de modo que tudo o que fazia prosperava.

Um dia, ao se aprontar para ir cortar lenha na floresta, o pai disse, quase como que para si mesmo:

– Bem que eu gostaria que alguém levasse a carroça.

– Papai – o Pequeno Polegar disse –, eu posso levar a carroça. Pode confiar em mim. E não me atrasarei.

O pai riu e respondeu:

– Como vai fazer isso? Você é pequeno demais para segurar as rédeas.

– Não é nada disso, papai. Enquanto a mamãe continua girando a roda para fiar, eu me sento na orelha do cavalo e digo-lhe aonde ir.

– Bem – o pai disse –, vamos tentar uma vez.

Na hora da partida, depois de colocar o filho na orelha do cavalo, a mãe continuou fiando. O menino partiu gritando:

– Upa! Upa!

O animal andava como se o seu senhor o estivesse cavalgando e conduziu a carroça pelo caminho correto até a floresta. Quando viraram uma esquina e o menino gritava “Upa!”, dois estranhos estavam passando.

– Veja aquela carroça – disse um deles. – Dá para ouvir o condutor falando com o animal, mas onde ele está?

– Muito estranho – disse o outro. – Vamos seguir a carroça e descobrir a quem ela pertence.

E a carroça foi direto pelo meio da floresta, até o local onde a madeira tinha sido cortada. Quando o Pequeno Polegar avistou o pai, chamou-o:

– Veja, papai, aqui estou com a carroça. Ajude-me a descer.

O pai segurou o cavalo com a mão esquerda e tirou o filho da orelha do cavalo com a direita. Feliz, o menino sentou em um toco. Quando os dois estranhos o viram, ficaram mudos de espanto. Por fim um deles puxou o outro de lado e disse:

– Ganharíamos uma fortuna apresentando esse sujeito na cidade. Vamos comprá-lo.

E assim eles se aproximaram do lenhador e fizeram sua oferta:

– Venda-nos o homenzinho. Cuidaremos dele e nada de mau lhe acontecerá.

– Não – o pai respondeu. – Ele é a luz dos meus olhos e eu não o venderia nem por todo o dinheiro do mundo.

Mas o Pequeno Polegar subiu pelas abas do casaco do pai, empoleirou-se em seu ombro e sussurrou em seu ouvido:

– Papai, deixe-me ir. Voltarei logo.

O pai o entregou aos dois homens por uma boa quantia de dinheiro. Esses lhe perguntaram onde ele gostaria de ir sentado, e o menino respondeu:

– Coloque-me na aba do seu chapéu. Assim eu poderei ver a paisagem e não corro o risco de cair.

Os homens atenderam o seu pedido e partiram. Eles viajaram até o anoitecer, e o Pequeno Polegar pediu para descer, para variar um pouco. Depois de alguma discussão, os dois homens consentiram. Eles o tiraram do chapéu e o colocaram na grama, junto à estrada. Tão logo pousou no chão, o Pequeno Polegar correu. Foi pulando entre os sulcos e entrou em um buraco de rato, bem o que estava procurando.

– Boa noite, senhores. Podem seguir sem mim – ele gritou para os dois, rindo. Os homens correram atrás dele e cutucaram o buraco com gravetos, mas foi tudo em vão. O Pequeno Polegar foi cada vez mais fundo e, como já estava escuro, tiveram de ir embora envergonhados e com os bolsos vazios.

Assim que eles desapareceram, o Pequeno Polegar saiu de seu esconderijo subterrâneo.

– É perigoso ficar andando por aqui no escuro. Posso acabar quebrando o pescoço.

Por sorte, ele encontrou uma casa de caramujo vazia.

– Muito bem – disse. – Posso passar a noite aqui. – Ele se ajeitou para dormir, mas logo ouviu dois homens que passavam. Um deles dizia:

– Como vamos pôr as mãos no ouro e na prata do vigário?

– Eu sei como – o Pequeno Polegar respondeu.

– Credo! – um dos ladrões disse. – Eu ouvi alguém falando.

Os dois ficaram em silêncio e apuraram os ouvidos. O Pequeno Polegar falou novamente.

– Levem-me com vocês. Eu mostro como roubar o vigário.

– Onde está você? – os ladrões perguntaram.

– Olhem para o chão e sigam o som da voz – ele respondeu.

Afinal eles o encontraram e o ergueram.

– Um elfo! – disseram. – E como é que pode nos ajudar?

– Eu posso passar pelas barras de ferro da sala do vigário e passar a vocês o que quiserem.

– Muito bem – os ladrões disseram. – Vamos ver o que você é capaz de fazer.

Quando chegaram à residência do vigário, o Pequeno Polegar entrou e de lá gritou:

– Vocês vão querer tudo isto?

Os ladrões ficaram aterrorizados e disseram:

– Fale mais baixo para não acordar ninguém.

Mas o Pequeno Polegar fez de conta que não ouviu e gritou de novo:

– O que vão querer? Tudo isto?

Ele gritou tanto que a cozinheira, que dormia em um quarto meio distante, acordou. Os ladrões, com medo de serem descobertos, tinham corrido para longe dali, mas recobraram a coragem, pensando que o menino estivesse zombando deles. Por isso eles voltaram e lhe sussurram para que ficasse quieto e lhes passasse alguma coisa.

Outra vez o Pequeno Polegar gritou tão alto quanto pôde:

– Podem deixar. Vou passar tudo para vocês.

Dessa vez a cozinheira escutou muito bem. Ela pulou da cama e abriu a porta de repente. Os ladrões correram como se estivessem sendo perseguidos por um caçador maluco, mas a empregada, que não estava enxergando nada, foi buscar uma vela. Assim que ela voltou, o Pequeno Polegar foi para o celeiro, sem que ela o visse. Depois de examinar todos os cantos sem encontrar nada, a cozinheira voltou para a cama achando que estivera sonhando acordada.

O Pequeno Polegar subiu no feno e achou um cantinho para passar a noite. Ele pretendia voltar para casa no dia seguinte. Porém outras coisas estavam para lhe acontecer, pois o mundo é repleto de problemas e preocupações. A cozinheira acordou cedinho para alimentar as vacas. Ela se dirigiu primeiro ao celeiro, onde pegou uma braçada de feno justamente do monte no qual dormia o Pequeno Polegar. Ele não percebeu nada e só acordou quando já estava na boca da vaca, que o engolira com o feno.

– Oh, Deus! – ele exclamou. – Como vim parar nesta moenda?

Mas ele logo se deu conta de onde estava e tomou todo o cuidado para não ficar preso entre os dentes da vaca. Por fim, teve de ir até o estômago do animal.

– Esqueceram-se de colocar janelas neste lugar – ele disse. – O sol não pode entrar e não há velas.

Seu novo alojamento não lhe agradou nem um pouco, e, o que era pior, não parava de chegar mais feno. O lugar estava ficando entulhado. Por fim ele gritou, tão alto quanto conseguiu:

– Chega de feno! Chega de feno!

Nessa hora a cozinheira estava tirando o leite da vaca. Ele escutou uma voz, mas não viu ninguém, e era a mesma voz que tinha escutado à noite. Aterrorizada, ela caiu do banquinho e derramou todo o leite. Então correu para o patrão, gritando:

– Senhor, senhor, a vaca falou.

– Não diga bobagens – o vigário respondeu e foi até o estábulo ver o que estava acontecendo.

Assim que ele entrou, o Pequeno Polegar gritou outra vez:

– Chega de feno! Chega de feno!

O vigário se assustou, imaginando que um espírito maligno houvesse se apossado da vaca e ordenou que ela fosse sacrificada. A vaca foi morta e seu estômago foi jogado no monte de esterco. O Pequeno Polegar teve bastante trabalho para sair dali. Nem bem tinha feito um buraco por onde passar a cabeça, novo infortúnio lhe sucedeu. Um lobo faminto apareceu e engoliu o estômago da vaca de uma vez só. Mas o Pequeno Polegar não se deixou abater. “Talvez”, ele pensou, “o lobo dê ouvidos à razão.” Por isso, gritou:

– Meu caro lobo, posso lhe dizer onde encontrar uma refeição esplêndida.

– Onde?

– Em uma casa assim e assim, e você deve entrar nela pelo esgoto. Lá há bolos, toucinho e sopa em abundância – disse o Pequeno Polegar, descrevendo a própria casa. O lobo nem piscou. Durante a noite, espremeu-se pela tubulação de esgoto e refestelou-se com o que encontrou na despensa. Quando se sentiu satisfeito, tentou ir embora, mas comera tanto que sua cintura não passava mais pelos canos. O Pequeno Polegar contava com isso e começou a fazer um barulhão dentro da barriga do lobo.

– Dá para ficar quieto? – o lobo disse. – Assim os donos da casa vão acordar.

– Escute aqui – disse o Pequeno Polegar. – Você está aí todo satisfeito, e agora vou fazer algo por mim mesmo – e recomeçou a fazer todo o barulho que podia.

Por fim seu pai e sua mãe acordaram. Eles correram para a porta e espiaram pela fresta. Quando viram o lobo, pegaram suas armas. O homem agarrou um machado; a mulher, uma foice.

– Fique atrás de mim – o homem disse quando eles entraram na despensa. – Se ele não parecer morto depois que eu lhe der uma machadada, acerte-o com a foice.

Ao ouvir a voz do pai, o Pequeno Polegar gritou:

– Papai, estou dentro da barriga do lobo.

O pai encheu-se de alegria.

– Graças a Deus encontramos nosso filhinho – e instruiu a mulher a manter a foice fora do caminho para que o filho não se machucasse.

Então ele se aproximou do animal e deu-lhe um golpe fatal na cabeça. Depois, pegou uma tesoura, abriu o corpo do lobo e tirou de lá o seu filho.

– Estávamos tão preocupados com você! – o pai disse.

– Sim, papai, vivi muitas aventuras pelo mundo, mas estou feliz de respirar ar fresco de novo.

– Por onde você andou? – o pai perguntou.

– Por um buraco de rato, a concha de um caramujo, o estômago de uma vaca e as tripas de um lobo. Acho que agora vou ficar em casa.

– E nós não vamos nos separar de você nem por todos os reinos do mundo – os pais disseram, enquanto beijavam e abraçavam o Pequeno Polegar. Em seguida eles lhe deram de comer e de beber e roupas novas, pois as velhas tinham virado trapo durante a viagem.
© alguemsemnome,
книга «Contos de fadas».
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